A GALINHA QUE FAZIA TRICOT
A história se passa dentro de uma fazenda localizada em algum ponto da Inglaterra, provavelmente Yorkshire, nos anos 1950. Ou seja, bem pouco tempo após o término da Segunda Guerra Mundial. Há um galinheiro, onde cada uma das galinhas cumpre uma função específica e vive pacatamente. Mas, a estrutura é como a de um campo de concentração, de lembrança então bastante recente. Não há nenhuma liberdade e elas não conseguem colocar bicos e asas do lado de fora da cerca de arame farpado que as mantêm em área restrita, protegida por cães ferozes. A vida fora deste espaço é apenas imaginada, um sonho.
Ocorre então que uma delas, que tem o nome de Ginger, resolve fugir e conhecer o mundo. Esse desejo cresce quando ela se dá conta que algo está mudando, para muito pior. Todas as galinhas são poedeiras, mas o casal Tweedy, que é proprietário do lugar e se mostra tirano, passa a abater aquelas que não conseguem manter a produtividade esperada. Essas são transformadas em ingrediente das suas refeições e existe ainda um projeto de fabricarem tortas de frango, numa ideia que a mulher pretende por em prática – o homem é menos malicioso e mesmo um tanto estúpido. Deste modo, ela planeja a fuga, buscando libertar também suas companheiras.
A animação foi produzida em sistema de stop motion, no ano de 2000, pelo estúdio britânico Aardman Animations. Aliás, foi o primeiro trabalho em longa metragem feito por eles, no qual contaram com a parceria do estúdio norte-americano DreamWorks Animation. A história foi criada por Peter Lord e Nick Park, que também se encarregaram de uma direção primorosa, depois que os originais receberam roteiro de Karey Kirkpatrick. O nome original de Chicken Run ficou A Fuga das Galinhas, no Brasil.
Ginger passa a ser auxiliada em seu intento pelo galo chamado Rocky. Este, em determinada noite, passava voando acima do galinheiro quando bateu na cerca e caiu dentro da área. A galinha, imaginando que voar por sobre o cercado seria a única forma de irem embora, o esconde para que os proprietários não o encontrem. Ele então passa a comandar uma série de exercícios sem sentido, assegurando que desta forma elas poderiam aprender a voar. Enquanto isso, mais uma das ocupantes do galinheiro é sacrificada: sem colocar todos os ovos que deveria ao longo da semana, Edwina é abatida com uma machadinha e vira jantar dos Tweedy. Com o tempo, se descobre que Rocky é uma fraude. Mas, isso não abala a confiança de Ginger, que prossegue na luta por liberdade.
A Fuga das Galinhas arrecadou mais de US$ 224 milhões, tendo se tornado com isso a animação em stop motion com maior bilheteria da história. Aliás, me deixem explicar este termo em inglês, que já usei duas vezes: se trata de uma técnica que utiliza a fotografia de objetos feitos de diversos materiais, sendo feito fotograma por fotograma, com ligeiras diferenciações no seu posicionamento. Quando depois colocados em sequência, isso provoca a ilusão de movimento. Pode ser aplicado com bonecos ou estruturas feitas com massa de modelar, por exemplo.
Entre as várias personagens do filme, a que mais me impactou foi uma totalmente alienada. A galinha passava todo o seu tempo fazendo tricot e, cada vez que uma das companheiras sumia, sendo conduzida para a morte, ela jurava que a outra havia saído de férias. Por essas e outras é que o filme, mesmo que agrade muito a crianças, merece ser visto e revisto por adultos. Porque sua mensagem nada subliminar revela os riscos quando se desconhece a realidade que nos cerca, ao mesmo tempo em que clama pela necessidade de resistência e de esperança que dias melhores sempre poderão vir.
29.09.2023
P.S. 1: O público que acompanhar o BFI London Film Festival, agora em outubro, poderá assistir A Fuga das Galinhas: a Ameaça dos Nuggets, antes de todo mundo. Isso porque a animação, que será uma nova história envolvendo os mesmos personagens, terá sua première no evento londrino, no dia 14.
P.S. 2: Hoje teremos mais uma vez aqui no blog a sessão anexa, logo após as chamadas para doações e antes do bônus. São informações e perguntas propondo algum tipo de reflexão.
Se você gostou desta crônica, garanta a continuidade do blog com uma doação. Isso ajudará a cobrir custos com sua manutenção. Faça isso usando a Chave PIX virtualidades.blog@gmail.com (qualquer valor ajuda muito) ou o formulário existente abaixo. São duas alternativas distintas para que você possa optar por uma delas e decidir com quanto quer ou pode participar, não precisando ser com os valores sugeridos. Toda contribuição é bem-vinda. No caso do formulário, a confirmação se dá depois das escolhas, no botão “Faça uma Doação”.
FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES
Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.
Faça uma doação mensal
Faça uma doação anual
Escolha um valor
Ou insira uma quantia personalizada
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente
ALGUMAS COISAS PARA SE PENSAR (04)
1. O Ministério Público do Rio de Janeiro instaurou um procedimento para avaliar uma eventual responsabilização do prefeito de Barra do Piraí, Mário Esteves. Durante a inauguração de uma obra pública, o político defendeu a esterilização das mulheres do município para controlar o número de crianças. “Tem que começar a castrar essas meninas”, teria dito ele ao reclamar de ter que construir mais creches. Não existe informação se as mulheres da família dele também deveriam também passar pela cirurgia.
2. O assassinato de um policial federal durante operação na Bahia, no dia 15 de setembro, desencadeou uma série de confrontos posteriores, envolvendo forças da segurança pública. Desde então, são 57 os suspeitos que foram mortos, todos eles nas periferias. Nem um único policial foi sequer ferido. (Isso até ontem, quando dois policiais militares morreram. Só que estes estavam à paisana e atiraram um contra o outro.) Não é uma sorte impressionante os bandidos terem uma pontaria tão ruim?
O bônus de hoje é a música tema do filme A Lista de Schindler, composta por John Williams para Itzhak Perlman. Neste clipe temos Nancy Webb no violino e David Webb no piano. Logo depois é a vez de um fragmento dublado do filme A Fuga das Galinhas (o original).