NÃO ESTAMOS EXAGERANDO

Vez por outra eu ouço que a série de denúncias que se faz, quase que diariamente, afirmando que a sociedade brasileira perdeu de vez a vergonha de externar sua postura violenta e preconceituosa, a partir da chegada de Bolsonaro ao poder, não passa de um exagero. É o “chega de mimimi”, dito pelo seu líder sendo outra vez aplicado. Afinal, tudo não passa de um grande delírio desse pessoal de esquerda. E ressurgem aquelas frases clichês, coisa daqueles almanaques que no passado eram distribuídos nas farmácias. “Nosso povo é pacato, ordeiro, sem quaisquer preconceitos de raça e credo. Somos uma nação onde não há ódio entre classes sociais. Local onde até os negros têm alma branca”.

O descaso com a educação, a perseguição aos professores, o estímulo ao patrulhamento em salas de aula, nos últimos quatro anos, criou situações jamais imaginadas como possíveis antes. Massacres em escolas, com crianças sendo assassinadas com machadinha e a tiros. Um reitor cometendo suicídio a partir de acusações depois confirmadas falsas, como o bom senso sempre apontara. Uma polícia aparelhada, com homem assassinado dentro de viatura da PRF, com o uso de gás lacrimogêneo – convêm salientar a existência de muitos policiais sérios. Uma tentativa de aprovar o excludente de ilicitude, evitando punições no caso de abusos. Letalidade policial como nunca se viu antes, com negros e pobres sendo perseguidos e assassinados nas periferias.

Incidentes absurdos, como um cidadão sendo morto a tiros quando apenas comemorava seu aniversário, antes das eleições. Uma deputada federal perseguindo pessoa na rua com arma em punho. Autoridades sendo ameaçadas pessoalmente e por meio das redes sociais. Militares de alta patente fazendo papel ridículo de assumir função de vendedores de muamba. Aviões e outros veículos oficiais transportando drogas. Defensores do meio ambiente sendo mortos em função das suas ideias e do trabalho feito. Foram 342 no total, com destaque para Bruno Pereira e Dom Phillips, esse último um jornalista inglês. O feminicídio ganhando proporções epidêmicas, em especial após o incentivo ao armamento da população. Aliás, a maior parte destas armas de fogo, algumas de grosso calibre, passaram a alimentar as milícias e o tráfico. Um outro número para auxiliar quem pensa, contribuindo na argumentação, quando se fizer necessário: crimes cometidos por pessoas que se dizem caçadores e colecionadores de armas cresceram 745% neste período.

Nos últimos dias mataram a tiros uma senhora baiana que liderava as comunidades quilombolas. No final de semana passado, homens armados entraram durante a madrugada, atirando em uma reserva indígena localizada em São Francisco de Paula (RS). Fato semelhante ocorreu no Mato Grosso. As delegacias especializadas não dão conta de registrar tantas ocorrências de racismo e homofobia. Mesmo tendo havido um necessário endurecimento da legislação que trata destes crimes, o que na prática não os está coibindo. 

Incrível é que grande parte destes crimes foram feitos diante de câmeras de vigilância, muitas vezes do conhecimento de quem os praticavam. Vou concluir com um exemplo documentado através do vídeo que os leitores poderão ver abaixo. Na noite da sexta-feira, 18 de agosto, no condomínio Life, que fica na Ponta Negra, região habitada pela classe média alta da cidade de Manaus, uma babá cometeu o inaceitável descuido de ficar ao lado de dois moradores, na saída dos elevadores. Eram eles o policial civil Raimundo Nonato Machado e sua esposa, a educadora física Juçana Machado. A mulher, indignada com o “desrespeito da serviçal”, após breve discussão passou a agredi-la violentamente no estacionamento do condomínio, com socos e pontapés, diante do olhar cúmplice do marido. Isso durou bom tempo, até que o patrão da agredida veio ao seu socorro. Ele é o advogado Ygor de Menezes Colares, que não pode apartar porque passou ele próprio a ter que se defender de Raimundo, que antes ainda alcançou uma arma de fogo para Juçana. Com os dois homens ainda engalfinhados, ela deu um tiro na perna do vizinho.

A mulher acabou presa em flagrante, num primeiro momento acusada por porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, disparo de arma de fogo, lesão corporal e ameaça. O zeloso marido foi responsabilizado como coautor das agressões e tentativa de homicídio ainda no dia seguinte, quando o juiz Alcides Carvalho Vieira Filho determinou a sua prisão preventiva – na véspera seus colegas o liberaram. O policial já havia se envolvido em outras situações com os vizinhos. E fora demitido da Polícia Civil em 2010, conseguindo retornar depois. Juçana, por sua vez, tem postado em suas redes sociais o fato de ter supostamente trabalhado como representante comercial de emissora afiliada da TV Bandeirantes, na região. E fez campanha para o ex-presidente Jair Bolsonaro e candidatos que o apoiavam, em 2022.

A Ordem dos Advogados atuará em conjunto com a Corregedoria de Polícia, solicitando que o policial seja proibido de portar armas. Além disso, assegura que buscará seu afastamento cautelar das funções e a posterior exoneração do serviço público. Como eu afirmei antes, uma vez que os envolvidos sabiam de antemão que existem câmeras no local, agiram desta forma devido à certeza de impunidade, com a qual tanta gente passou a contar, nos últimos anos. Afinal de contas, não faz muito que um presidente da República deu indulto para um condenado pelo STF. E, ao que tudo indica, também prometeu fazer o mesmo com outro, esse um hacker contratado para o cometimento de mais crimes. Então, podem acreditar no título desta crônica: não estamos exagerando.

22.08.2023

Raimundo Nonato e Juçana

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O bônus de hoje, além do vídeo prometido, é a música Impunidade, com a Tribo de Jah.