CARLINHA PENSOU QUE PODIA TUDO

Examinando o comportamento dela, ao longo dos últimos anos, se percebe que não foram poucas as vezes nas quais simplesmente desconheceu a existência de leis em nosso país. Estava fazendo e andando. E essas atitudes sistemáticas só podem mesmo ser um sinal inequívoco da certeza de impunidade. Estava próxima ao poder e tinha absoluta convicção de que continuaria, porque não admitia sequer a hipótese do seu grupo político ser afastado pela vontade popular. A doutrinação e os recursos investidos na permanência haveriam de ser suficientes. Não sendo, a força garantiria o não afastamento. Desta forma, conseguiu a proeza de levantar várias provas contra si mesma.

Para quem desconhece, Carla Zambelli apareceu pela primeira vez na mídia durante uma entrevista que concedeu quando trabalhava em um acampamento montado pela direita para pressionar o Congresso e ocupar espaço junto à opinião pública, defendendo o afastamento da então presidenta Dilma Rousseff. O papel dela era cuidar do acesso aos banheiros. Tem vídeo na internet, comprovando isso que escrevo agora. Da mesma forma, vídeos e fotos a estão comprometendo atualmente, além de depoimentos e documentos localizados. As chances de que escape de perder seu mandato e de não acabar presa são remotas. Tanto isso é verdade que os companheiros de partido e ideologia já começam a abandoná-la. Porque essa é a regra do jogo, especialmente dentro do espectro da extrema-direita: o animal ferido de morte fica pelo caminho, para não atrapalhar a caminhada dos demais. Nada daquela expressão “ninguém larga a mão de ninguém”. Isso é coisa de comunista.

Dias atrás a deputada federal pelo PL paulista precisou entregar o seu passaporte e todas as suas várias armas para a Polícia Federal. E isso foi decidido não porque ela usou uma delas em punho, uma pistola, para perseguir homem negro pelas ruas de São Paulo, dias antes do segundo turno das eleições presidenciais. Sobre este constrangimento com arma de fogo e seu porte ilegal, a análise do caso será feita pelo STF até o dia 21 de agosto, em plenário virtual. A denúncia foi apresentada pela PGR, Procuradoria-Geral da República, em janeiro deste ano. Se a Corte optar por aceitar a denúncia, Carla será tornada ré de uma ação penal. A razão desta ação da PF contra ela foi a comprovação de ter participado de atos golpistas. A situação dela azedou quando o hacker Walter Delgatti Neto confessou ter sido contratado pela deputada para uma série de crimes, todos eles relacionados à tentativa de manter Jair Bolsonaro no poder.

Uma das ações pelas quais pagou a ele foi a inclusão de um mandado de prisão falso, contra ninguém menos do que o ministro Alexandre de Moraes, no banco de dados sob tutela do Conselho Nacional de Justiça. Mas isso, que parece mais ter sido feito como uma piada, uma chacota para demonstrar um poder que não tem, é menos grave do que uma série de alvarás de soltura também falsos, beneficiando uma série de indivíduos que estavam presos por motivos diversos – foram 11 os criminosos auxiliados por ela. Havia também o objetivo de invadir o celular e a caixa de e-mails do então presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Há reuniões documentadas entre Carla, Walter e o próprio ex-presidente. Aliás, a deputada desfilou por meses em companhia deste “especialista”. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, confirmou no mês de julho ter sido apresentado ao hacker por ela durante a campanha de 2022. Para complicar ainda mais, em seu depoimento à Polícia Federal o invasor de sistemas relatou ter sido ele que elaborou quase que na totalidade a tal lista de perguntas que os militares enviaram para o TSE, quando ainda insistiam na tese jamais comprovada das urnas eletrônicas serem frágeis. O que deixa também as Forças Armadas em maus lençóis, como se elas precisassem de algo mais para mostrar toda a incapacidade e inoperância recentes.

Carla Zambelli já havia sido condenada a indenizar com R$ 20 mil a jornalista e ex-deputada federal Manuela d’Ávila, por ter postado uma montagem, nas redes sociais, com sua caracterização como uma diaba. Também em mais R$ 20 mil por uso indevido e não autorizado de uma música de Manno Góes em um vídeo seu. Em outros R$ 30 mil por divulgação de fake news durante a última campanha eleitoral. Quando se faz uma pesquisa no portal Jusbrasil é possível encontrar 141 processos contra ela, em vários tribunais. Mas nada disso tem sido suficiente para que sua conduta melhore.

A total certeza de impunidade, como coloquei no primeiro parágrafo, fica comprovada de vez por terem sido feitos os pagamentos para o hacker Walter Delgatti Neto através de PIX. Nada de dinheiro em espécie, como outros corruptos do mesmo grupo político várias vezes fizeram. Foram R$ 10.500,00 enviados por Renan César Silva Goulart, enquanto mais R$ 3.000,00 saíram da conta de Jean Hernani Guimarães Vilela, ambos funcionários de Carla. Ou seja, ela de fato pensou que podia fazer tudo. Ao que tudo indica, “dará com os burros n’água”, como diriam nossos bons amigos portugueses.

14.08.2023

A “patriota” perseguiu uma pessoa com arma em punho, pelas ruas de São Paulo

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O bônus de hoje é a música Cobra, com Rita Lee.