PROFESSORES E TRAFICANTES

Só mesmo um ser abjeto pode comparar professores com traficantes de drogas. Simples assim. Que me desculpem as pessoas que ainda têm esperança no meio termo, que ainda acreditam que sempre se possa resolver questões com tolerância e postura de esfinge. Algumas vezes não dá. Quanto ao texto de hoje, pensei vários dias se este tema deveria ou não ser abordado, porque ser comentado e discutido é exatamente o que as pessoas que agem desta forma desejam. Entretanto, tenho uma enorme dúvida quanto ao risco que se corre deixando com que essa gente fale sozinha, ficando como dona única do discurso, reafirmando como sendo verdade cada um dos absurdos que costumam jogar nas redes sociais.

O autor deste absurdo foi o deputado federal Eduardo Bolsonaro, que é conhecido como “Bananinha” – ironicamente o apelido não foi dado por ninguém da esquerda e sim pelo parceiro e ex-vice-presidente Hamilton Mourão –, o filho 03 de Jair Bolsonaro. Eleito pelo PL de São Paulo, falou isso em Brasília, num evento organizado para exaltar a necessidade da facilitação do uso de armas de fogo pela população, o que aponta muito bem para a índole e as prioridades dele. Além de imprópria, esta comparação pode ser estímulo para incremento da violência que tem sido verificada em escolas, em todo o país. O que não se tinha notícia de acontecer anteriormente, passou a ser comum desde que o governo anterior sugeriu, por exemplo, que os professores fossem vigiados e denunciados por alunos. O número de agressões contra docentes cresceu. Também aumentou o número de ataques contra escolas, com a morte de crianças e adolescentes, como decorrência conjunta entre o descaso com a educação e o incentivo ao armamento.

Professores e professoras são referência na construção de muitas vidas, enquanto traficantes as destroem. Eles e elas compartilham algo além de conhecimento e de informação, mostrando caminhos, com todo o apoio necessário, dando as mãos e estimulando desenvolvimento pessoal. Isso com vínculos e com exemplos, com carinho e dedicação. Profissionais da educação buscam estimular reflexões sobre a realidade, enquanto traficantes – assim como também políticos do (baixo) nível deste Bananinha – alienam, usam as pessoas como se fossem objetos, aviltam consciências e se tornam o contrário de qualquer esperança. Professores e professoras vislumbram futuros; traficantes e políticos ordinários aniquilam tudo a partir do presente. Educadores favorecem respeito, dignidade, proximidade, afeto; traficantes e políticos com vergonha muito menor do que seus votos pensam em si e nos seus próprios interesses. E o que se precisa e deseja é uma sociedade melhor, com paz, justiça, cidadania e prosperidade, algo que só investimento em educação pode nos propiciar.

Ainda bem que o ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou que a Polícia Federal apure possíveis crimes que teriam sido cometidos por Eduardo, com esta sua fala. Ao mesmo tempo, colegas do parlamentar trataram de acionar a Procuradoria-Geral da República e a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados com representações que podem trazer complicações sérias para ele. O insulto poderá inclusive custar seu mandato, se prosperarem as reações indignadas que estão tendo eco na sociedade. Se isso de fato acontecer, o que com certeza não é algo fácil, em função da grande estrutura de proteção que existe em torno dele, seria finalmente um sinal que a impunidade pode acabar em nosso país.

Para concluir, vamos refrescar aqui a memória do deputado Bananinha: um avião da FAB da comitiva de viagem de seu pai levou 39 quilos de cocaína para a Espanha; no caminhão de um ex-ministro bolsonarista foram encontrados 322 quilos de maconha; e em avião de familiares da ministra Damares estavam 290 quilos de cocaína. Apenas três dos casos descobertos e ninguém entre os envolvidos era professor(a). Mas todos, sem exceção, tinham a incrível “coincidência” de possuírem o DNA da famíglia.

25.07.2023

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O bônus de hoje primeiro tem um vídeo produzido pelo movimento Todos Pela Educação, em 2011. Depois, uma paródia da música Aquarela, de Toquinho e Vinícius de Moraes, que tem o nome de Aquarela do Professor. Nesta gravação estão membros do Núcleo Regional da Educação de Cianorte (Paraná), em homenagem que fizeram aos docentes e agentes educacionais. E ainda fecho com áudio de To Sir With Love, na voz de Lulu, cantora escocesa cujo nome real é Marie McDonald. Esta canção integra a trilha sonora do filme Ao Mestre Com Carinho, de 1967, cujo protagonista era vivido por Sidney Poitier, um ator negro.

To Sir With Love, na voz de Lulu (Marie McDonald)