O SÉTIMO SELO

Um filme que foi lançado no Brasil ainda em julho de 1959 – portanto, fará 64 anos em breve –, mas que tem um argumento excelente e, por isso mesmo, atemporal. Me refiro a O Sétimo Selo, do diretor sueco Ingmar Bergman, que fora produzido dois anos antes da sua estreia em nosso país. Até hoje considerada uma obra-prima por críticos do cinema, o filme resultou de uma adaptação de uma peça escrita para o teatro, tornando-se depois um clássico no movimento neo-expressionista. Sobre ele quero escrever hoje nesse espaço, lembrando que atualmente se pode ver a obra no Youtube ou em raras plataformas de streaming.

A história está centrada em um cavaleiro de nome Antonius Block, que retorna das Cruzadas e encontra o seu país devastado pela Peste Negra. Diante do quadro, sua própria fé termina abalada, uma vez que ele não entende este suposto abandono por parte de Deus. Mas, enquanto fica absorto nesse momento existencial que o leva a refletir inclusive sobre o significado da vida, a Morte surge para levá-lo consigo, avisando que chegara também a sua hora. Mas o cavaleiro, buscando ganhar tempo e permanecer no reino dos vivos, a desafia para um jogo de xadrez. O prêmio para o vencedor seria definir o destino do homem: ou seja, caso ele vencesse poderia se recusar a acompanhar a visita sinistra. A derrota seria sua condenação inapelável.

O desafio foi aceito porque a Morte sabia que jamais perdia. Ao longo de imemoráveis tempos, nem uma única vez deixara de cumprir com a sua missão de conduzir as almas que vinha buscar. A partir disso muitos são os temas pelos quais a história transita, abordando a questão religiosa, a caça às bruxas, a doença e a finitude de todas as existências – fato que aproxima todas as criaturas vivas sobre a Terra, posto que formam um inevitável rebanho de condenados, tendo ou não consciência disso.

A expressão que dá título ao filme é retirada de Apocalipse 8:1, trecho que diz “havendo aberto o sétimo selo, fez-se silêncio no céu quase por meia hora”. A referência remete à noção de que, diante do inexorável fim, nada nos resta além do silêncio. O próprio céu silenciaria trinta vezes mais do que cada minuto de silêncio que nos pedem eventualmente e nos parece tão custoso oferecer.

Evidente que diante da estética imposta pelo cinema norte-americano, de alta voltagem, ação incessante e violência mais do que provável, este parece ser algo totalmente fora de propósito. Ele é introspectivo e rodado em preto e branco, mas sua fotografia e a qualidade dos diálogos são de fato elementos compensadores. Quanto à imagem, o jogo de luz e sombras que o diretor conseguiu que fosse captado, graças ao trabalho espetacular de Gunnar Fischer, oferece perfeição às cenas. E o elenco está de fato muito comprometido com o trabalho, o que fica evidente no resultado final.

Enfim, para quem gosta de cinema de verdade, tenho certeza de que esta lembrança é importante. Para quem não tem o hábito de escolher filmes que fujam ao roteiro comercial dos nossos dias, um certo preparo é recomendado. Muita gente considera este trabalho de Bergman triste e pesado. E até pode ser. Mas a vida, em especial diante da morte – no caso do protagonista, depois de batalhas e de doença –, sempre terá esse peso de ser mistério, com o seu cessar representando uma perda. Mesmo assim, sempre terá sido um grande papel vivido por cada um de nós.

13.06.2023

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O bônus musical de hoje é Palästinalied (Música Palestina), que foi composta – tanto a letra quanto a melodia – por Walther von der Vogelweide, um poeta lírico medieval da Alemanha. A letra original tem 13 estrofes. Modernamente, são utilizadas apenas algumas delas. O objetivo era retratar a ida dos Cavaleiros Cruzados à Terra Santa. As cenas que formam o clipe foram retiradas de dois filmes: Cruzada e Arn, o Templário.