Sempre gostei de ver os intervalos comerciais, na televisão. Nem sempre eles trazem novidades, mas são um bom repositório de criatividade. Houve época em que eu dava um jeito de conseguir os premiados anualmente em Cannes, para me deliciar com boas ideias e efeitos especiais ainda melhores. Existem peças tão boas que você chega mesmo a pensar na possibilidade de comprar algo que não necessita. O que, diga-se de passagem, é a função primordial da publicidade: fazer você acreditar que não pode viver sem o que, antes dela, nem sabia que existia.

Mas não se precisa ir tão longe, buscando os registros daquele festival mundial que acontece na França. A publicidade brasileira é considerada uma das melhores do mundo e eu acho que essa fama é mais do que merecida. Tivemos trabalhos que são lembrados mesmo décadas depois de realizados, tipo o primeiro sutiã da Valisère, que ninguém esquece mesmo. Ou outras tantas clássicas: os mamíferos da Parmalat; os limões dançarinos da Pepsi Twist; o Guaraná Antarctica acompanhando uma boa pipoca; a tartaruga que roubava o caminhão da Brahma; toda a linha do Carlos Moreno, 30 anos anunciando Bombril; a adoção do sistema DDD pela Embratel; a chegada do Danoninho no Brasil; o baixinho da Kaiser; e até a série recente dos Postos Ipiranga. Isso sem contar a proposta do “põe na Consul” e a contrapartida do “não é uma Brastemp”, ambos apelando para a memorização, tipo “não esqueça da minha Caloi” – aliás, a fábrica de bicicletas faliu anos depois. Produtos esses todos passíveis de serem comprados e pagos com um Mastercard, que “não tem preço”.

Mas existem também os comerciais que irritam a gente. Que prestam um desserviço ao anunciante. O principal assunto dos anúncios da operadora de celular que eu utilizo destaca como muito importante o fato dela permitir que seus clientes possam pedir uma segunda via da conta mensal, pela internet ou aplicativo. Ou seja, a maior vantagem oferecida por eles, numa leitura realista, está em permitir que a gente sempre pague em dia. Não falam em superioridade de algum serviço oferecido, de alcance do sinal ou preço competitivo. Ou melhor, até falam, mas muito menos do que aquilo que sempre repetem: você tem uma enorme facilidade para pagar o que nos deve. Sério, já pensei mais de uma vez em trocar de operadora, só por causa disso. Não fosse tão burocrático e chato fazer, eu já teria feito.

Que pessoa normal fica sorrindo para uma lata de extrato de tomate, junto à prateleira de um supermercado? E alguém já viu, na vida real, uma família típica de papai, mamãe e casalzinho de filhos, todos brancos e felizes devido à margarina que têm para passar no pão, em seu café da manhã? Existem ainda os que são repetidos tantas, mas tantas vezes que fazem efeito contrário. Adoro a TV Cultura, mas peguei nojo das vitaminas do Sidney Oliveira, que parece ser o principal anunciante deles: nunca tomei nenhuma e estou com overdose. Tem loja que vive alertando sobre explosão de ofertas, o que deveria dar é medo no seu cliente potencial. Vai que acontece coisa parecida com o que já ocorreu com tampas de bueiro no Rio de Janeiro, em 2018. E, nos últimos tempos, apareceu até empresário apontado como sonegador, que se veste com cores de Louro José para anunciar a abertura de novas lojas de sua rede.

Enfim, os intervalos comerciais nas emissoras de televisão são como as programações que elas veiculam. Existem bons e ruins, os bem feitos e os lamentáveis, pertinentes e totalmente inapropriados. E cada um de nós provavelmente tenho o seu “inesquecível” predileto. Ou mais de um, porque nesse item não existe cartão fidelidade.

12.11.2021

No bônus de hoje um comercial memorável da revista Época, que foi veiculado no ano 2000. Com o título A Semana, foi um dos mais premiados da história da publicidade nacional. E conquistou um Leão de Ouro, em Cannes. Em 2001 ele ainda abocanhou um Grand Prix no Clio, apenas o quinto outorgado em 42 anos da competição. Também foi o único filme não produzido em inglês que alcançou tal honraria. Feito em preto & branco, seu resultado foi tão expressivo que a revista semanal dobrou o número de assinantes. A produção foi da W/Brasil, com Washington Olivetto e Gabriel Zellmeister sendo os diretores de criação. A redação foi de Alexandre Machado, com direção de arte de Jarbas Agnelli.

3 Comentários

    1. Tenho certeza de deve ter seus prediletos também aí, na televisão dos EUA. Fico curioso é sobre como deveria ser na Guiana. Infelizmente, os três países do nordeste da América do Sul são como se a ela não pertencessem. Nós sabemos muito pouco sobre eles. Abraço!

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