Eu era adolescente e estava tendo um afair – sempre sonhei em usar esse galicismo em um texto meu – com uma colega de aula, filha de um pastor evangélico. Nada muito sério, mas admito que promissor. A mãe dela, sabendo ser eu espírita, não gostava muito da minha presença e tinha uma preferência mais do que explícita em favor de outro candidato a (quem sabe) futuro genro: um jovem fiel da sua igreja. Ela fazia um esforço imenso para me tolerar e eu fingia que não notava, tudo em nome de uma convivência minimamente aceitável, que evitasse o uso de um cartão vermelho, me expulsando de campo. Afinal, o jogo mal havia começado. Naquela época e com aquela faixa etária, os hormônios explodindo, fato somado à inexperiência, qualquer passo que se dava na direção de algum contato físico mais íntimo tinha que ser muito bem avaliado.

Uma determinada noite, ambos sentados na escada que dava acesso ao apartamento onde a menina morava, o único existente no primeiro andar de um prédio que tinha empresa embaixo, alguns beijos começaram a ficar mais, digamos, intensos. E junto com eles e com o abraço que tinha iniciado e não parecia ter fim, minha mão direita deslizou e se deteve sobre a parte frontal da blusa que ela usava, sentindo uma inconfundível e sonhada saliência, um misto de maciez e firmeza. Não houve protesto algum e o momento se estendeu. Foi interrompido quando ela, tirando seus lábios dos meus, me sussurrou uma pergunta avassaladora: – Você não acha que essa roupa está nos atrapalhando? Claro que eu achava. Mas não vou contar mais nada, exceto que minha atenção teve que continuar dividida entre as delícias da juventude e o sério risco de a porta de entrada ser aberta, inesperadamente.

O ser humano é o único mamífero que atribui aos seios das fêmeas uma conotação além da funcional, de amamentação. É forte o apelo sexual que essa parte da anatomia feminina exerce sobre os homens, mas ela também tem grande importância, ao ser corretamente estimulada, para a excitação da própria mulher. Pesquisadores de todo o mundo entendem que a imagem dos seios carrega fatores biológicos e emocionais, como os citados, mas também apelos culturais significativos. A fonte não é só de alimento, mas de aconchego e afeto. Portanto, a criança transformada em homem leva isso consigo, essa memória de associação ao prazer, sendo fácil esse agora pertencer a uma dimensão diferente, com erotismo e sensualidade.

O neurocientista e professor de psiquiatria, Larry Young, e o jornalista Brian Alexander lançaram juntos um livro que trata desse e de muitos outros temas ligados aos mistérios da paixão, do amor e do desejo entre casais. Em “A Química Entre Nós: amor, sexo e a ciência da atração” eles buscam desvendar assuntos, esclarecer dúvidas e provar que o amor não é tão complicado assim, como muitos consideram. Abordam também temas como ciúmes e infidelidade, entre vários outros, vendo tudo sob a ótica do que chamam de neurociência social. O relato se baseia em estudos, mas também em histórias reais, permitindo que os leitores satisfaçam desde meras curiosidades intelectuais até dúvidas que possam eventualmente ter sob seu próprio comportamento ou sobre o comportamento de pessoa parceira.

Voltando especificamente aos seios, apenas nas mulheres acontece a transformação que aumenta o volume dos seios durante a puberdade. Também seria exclusivo da nossa espécie estímulos manuais e orais nas preliminares, o que psicologicamente amplia a intimidade e cria elos mais estáveis. Uma pesquisa feita por duas universidades dos EUA, a de Sheffield e a do Texas – não há sobre o que não se pesquise –, mostra que 82% das mulheres gostam de carícias na região, com 60% delas pedindo isso explicitamente. Não sei o que as outras, que compõem os 22% restantes, estão esperando para fazer o mesmo. Garanto que, do ponto de vista masculino, agradaria muito ouvir esse pedido. Falo por experiência própria, lembrando da agora tão longínqua adolescência.

16.05.2021

No bônus de hoje a música Eu Quero Ser Feliz Agora, de Oswaldo Montenegro. Nessa gravação estão o compositor, a flautista Madalena Salles, que é sua esposa, Pedro Mamede e Alexandre Meu Rei.

3 Comentários

  1. É sempre interessante conhecer a opinião dos homens sobre o corpo feminino e os objetos de desejo masculinos. E o texto nos remete às descobertas de prazeres adolescentes! Agora a ilustração da crônica com foto de mulher sem rosto e com seios siliconados foi cruel! Deu saudades das imagens das divas italianas como Sophia Loren, Lolobrigida e La Cardinale, cujos atributos naturais nós mulheres invejávamos quando ninguém ainda falava em silicone! Seria o resultado desse produto o verdadeiro “fetiche” dos homens?

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    1. Na verdade, Inês, colocar foto que mostrasse o rosto da mulher, além dos seios, iria precisar de autorização. Sobre as divas, veja que não por acaso você citou as italianas. Naquele país, assim como nos EUA, seios são quase obsessão. Ou pelo menos eles são mais explícitos ao admitir isso. A ilustração colocada foi escolhida por acaso, sem atenção ao fato de ser um par siliconado. Agradeço pela leitura e comentário. Isso sempre agrada quem escreve. Abraço!

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